Talvez a terapia resolva. Toda vez que alguém me pergunta algo sobre mim, eu desvio o assunto. Mesmo que quem pergunta seja a pessoa em quem mais confio. Dou graças a Deus (ainda que eu esteja meio distante Dele ultimamente) se estiver perto da TV: posso comentar as mil e uma tragédias diárias, os gays espancados e as juízas assassinadas. Não é que eu fuja da intimidade. Eu apenas desvio o olhar quando o centro sou eu. Por mais egocêntrico que me julguem, não gosto de ser o centro. Por que não veem isso pelo lado bom? Sou bom ouvinte… Parece tão imperfeito?
As palavras saem numa velocidade terrivelmente alta. É como se o mundo estivesse pra acabar e fosse a última coisa que eu escreveria. Nem tanto pela relevância, mais pela urgência de amenizar esse estrangulamento que às vezes surpreende. E leio depois, com medo de encontrar mais erros que acertos, e jogar tudo fora… outra vez. E acham tudo tão bonito e sensível. Parece tão imperfeito.
Eu não fui sempre assim. Apenas me acostumei a estar sozinho. Prefiro escrever a estar com a maior parte das pessoas que conheço. Já pisaram demais no meu coração quando o externei. Eu sou bom ouvinte porque me reconheço na dor. A mesma que só é compreendida, de fato, por raros: os verdadeiros dispostos a compreender. Pelo menos nas entrelinhas. Pareço tão imperfeito, mas quando digo: “vamos embora”, vamos.
Música que inspirou: Columbia – Imperfeito